Mulher sob medida
As mulheres são capazes de loucuras para emagrecer. Quantas eu já fiz para ficar um palito... Mas tem sentido? O primeiro dos meus sacrifícios foi óbvio: deixar de comer as delícias deste mundo. Resisti bravamente a todos os pasteizinhos fritos na hora com uma cervejinha, a uma empada quentinha, saindo do forno, a um brigadeiro derretendo na boca. Quando penso, vejo o absurdo.
Dá para, em nome de uma magreza – que inventaram que é obrigação –, abrir mão do enorme prazer que é comer? Aliás, quando foi que começou essa mania? Se você for a qualquer museu do mundo, os quadros exibem mulheres gordas, e não conheço um homem – fora os que trabalham com moda – que não dê valor a um bumbum grande, para passar a mão com ar de dono, ou a uns peitos fartos (mas que sejam obra da natureza). E nem estamos falando das telas de Botero.
De onde veio essa invenção? Acho que os costureiros fizeram uma reunião secreta para decretar como devem ser as mulheres só para infernizar nossa vida. Pessoalmente, não conheço nenhum homem que deseje levar Kate Moss para a cama; em compensação, pergunte a qualquer um o que acha da Jennifer Lopez.
Houve um tempo em que eu quase desmaiava na rua de tanta fome. Bebia só água o dia inteiro, à noite tomava uma sopa de alface sem sal e era muito infeliz. Depois de várias semanas de jejum quase absoluto, botei na boca metade de uma bolacha de água e sal. Pensei que fosse morrer de tanta felicidade. Mantinha uma balança no quarto e me pesava três vezes por dia. Que tempos aqueles!
O pior é que mulher não tem personalidade. É para ficar magra? Então vamos lá. Ponha quatro almoçando juntas e elas só têm três assuntos: dieta, ginástica e homem (falta de). Isso comendo uma salada temperada com limão. Assim passei vários anos, mas numa bela manhã acordei pensando que a vida podia ser um pouco melhor. Fui a uma confeitaria, pedi um chocolate quente com creme, bolo de laranja, torradas com queijo ralado e vi que a felicidade existia. Decidi que ia ser gordinha, porém feliz. E os quilos foram chegando.
Os dois primeiros foram fáceis de absorver. Meus jeans, que eram tamanho 29, chegaram ao 34, e eu nem aí. Mas um dia, um dos mais dolorosos da minha vida, passei por uma vitrine, me vi de longe e mal me reconheci. Não que estivesse deformada, mas simplesmente não era mais eu. Voltei para casa arrasada e cheguei à conclusão de que cada pessoa tem seu biotipo. As que nasceram gordinhas não deveriam pensar em virar Gisele Bündchen; as que são magras por natureza, se começarem a comer loucamente, vão engordar, o que não vai combinar com elas. E voltei à dieta.
Hoje sou menos radical; aos sábados, eu me permito comer um pão de queijo e, aos domingos, tomo uma caipirinha, mas só uma. Afinal, são 120 calorias. E só lamento que nunca mais possa comer um acarajé com caldo de cana, as duas coisas mais calóricas que existem. Mas talvez no meu aniversário de 100 anos, eu me dê esse direito. Porque eu pretendo chegar lá, nem que seja só para isso.
Danuza Leão
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