domingo, 31 de janeiro de 2010

Eu e mim por mim mesma

Eu e mim
Por mim mesma
Eu
Eu
Eu
Eu e meu umbigo conversamos
Brigo
Choro
Grito
Respiro
Me alivio
Eu
Eu
Eu
Eu e meus desejos
Não param
Se perdem
Se erguem
Estremecem
Endurecem
Cem vezes por dia
E rio, rio, rio
Riso enorme
Eu
Eu
Eu
Eu e o Universo
É maior
Muito maior do que eu imaginaria
Eu sou imaginária.

Cacau Ana Aguiar

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sábado de folga

Vale a pena se for bombeiro!!!KKKKK!!!

O que me faz amar em um homem?


"Só ser desejada de nada adianta: quando acaba o suadouro, o que resta?

Eu realmente acreditava que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Elucubrações e digressões me impressionavam. Conhecimentos literários, artísticos, práticos seduziam a eterna adolescente em mim. Mas descobri que não era isso que me fazia amar: de nada adianta um cérebro invejável, citações brilhantes, se ele não rir das próprias besteiras, se não souber aproveitar as delícias do ócio de um sábado quente. Então percebi: bom humor era essencial. É delicioso estar com alguém que vive sem arrastar correntes e faz dos pequenos horrores cotidianos inevitáveis piadas. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, quero alguém que me conforte a alma. Nesses momentos, nada pior do que ser levada na brincadeira - existe uma imensa diferença entre a alegria de viver e a recusa a sair da infância. Então fui invadida pela certeza de que o que me fazia amar alguém era, antes de tudo, a sensibilidade. Telefonemas de bom-dia, olhares que vêem, pequenos gestos incontidos - tudo o que eu podia querer. Ou quase. Só sobrevive ao meu lado alguém que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas preciso da certeza de estar com um homem de verdade e não com um moleque preso no complexo de Peter Pan. Quero ser domada, tomada. Nem inteligência, bom humor ou sensibilidade me faziam amar alguém. Talvez fosse virilidade. Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha. Ser desejada com urgência é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta: quando acaba o suadouro, o que resta? Se o que interessa é a movimentação, tudo bem. Mas se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhado de cuidado, carinho. Pensei, então, que ele seria a pedra fundamental pra despertar meu amor. Mas carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora de um desconhecido. Um dia, cansei de tentar adivinhar. E, nesse dia, após tantas enumerações paralisadoras e neuróticas, descobri. Hoje sei exatamente o que me faz amar um homem: o amor existir. Quando é necessário justificá-lo, procurá-lo, racionalizá-lo, é sinal de que ele não está ali. Simples assim."


Ailin Aleixo

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Vida Nova



Princípio do Vácuo

"Você tem o hábito de juntar objetos inúteis acreditando que um dia vai precisar deles?

Você tem o hábito de juntar dinheiro só para não gastá-lo, pois no futuro acha que vai fazer falta?

Você tem o hábito de guardar roupas, sapatos, móveis, utensílios domésticos e outros tipos de equipamentos que já não usa há muito tempo?

E dentro de você?
Você tem o hábito de guardar mágoas, ressentimentos, raivas e medos?
Não faça isso.

É preciso criar um espaço, um vazio, para que as coisas novas cheguem a sua vida.
É preciso eliminar o que é inútil e dar espaço para que venha a prosperidade.
É a força desse vazio que vai absorver e atrair tudo o que você deseja.

Enquanto você estiver material ou emocionalmente carregado de coisas velhas e inúteis, não haverá espaço aberto para novas oportunidades.
Os bens precisam circular.
Limpe as gavetas, os guarda-roupas, o quartinho lá do fundo, a garagem.

Dê o que você não usa mais.
A atitude de guardar um monte de coisas inúteis amarra sua vida.
Não são os objetos guardados que emperram, mas o significado da atitude de guardar.

Quando se guarda, considera-se a possibilidade da falta, da carência.
É acreditar que amanhã poderá faltar e você não terá meios de prover suas necessidades.

Com essa postura, você está enviando 2 mensagens para o seu cérebro e para a vida.
Primeira mensagem:
Você não confia no amanhã.
Segunda mensagem:
Você acredita que o novo e o melhor não são para você, já que se contenta em guardar coisas velhas e inúteis.

Desfaça-se do que perdeu a cor e o brilho e deixe entrar o novo em sua casa e dentro de você!"

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Bem bem bem "benvindo", bem feito!!!

Dias que eu quero acordar!! Dias que passo a sonhar!! Dias de dúbios pensamentos!! Dias contra bossa-nova e a favor de heavy metal!!
Seja bem vindo aos meus ouvidos!! Pulando, pulando, eu me remexo muito...hehehe

Welcome Home (Sanitarium)

Metallica

Composição: J. Hetfield / L. Ulrich / K. Hammett

Welcome to where time stands still
No one leaves and no one will
Moon is full, never seems to change
Just labeled mentally deranged
Dream the same thing every night
I see our freedom in my sight
No locked doors, no windows barred
No things to make my brain seem scarred

Sleep, my friend, and you will see
That dream is my reality
They keep me locked up in this cage
Can't they see it's why my brain says “rage”

Sanitarium, leave me be
Sanitarium, just leave me alone


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ai que loucura de vida

ALL MY LOVING



















Composição: Lennon e McCartney

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

I'll pretend that I'm kissing
The lips I am missing
And hope that my dreams will come true

And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

All my loving I will send to you
All my loving, darling, I'll be true

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Motivos para amar um gordinho


Gordinhos, preparem-se: o mundo é nosso. As mulheres estão preferindo os gordinhos aos ‘bombadinhos’. Claro, as mulheres que querem casar. Não, não há nenhum dado ou pesquisa oficial que comprove isso, apenas uma pesquisa informal que fiz entre algumas pessoas que convive comigo. Levantei os 10 motivos primordiais citados entre as ouvidas e, por incrível que pareça, casar com um gordinho é um bom negócio para as mulheres. E para os gordinhos também.

1- O gordinho é bem humorado Ah, essa é ótima. O gordinho nasce engraçado por natureza. Não, não é um dado oficial, mas pense: quantos gordinhos mal-humorados vocês conhecem? Sempre tem uma piadinha na ponta da língua pra se autocriticar, com um sorriso aberto. A mulher busca cada vez mais um homem extrovertido, alegre, que a faça sorrir. O gordinho tem esse dom. Parece que chacotearam tanto o ‘bolinha’, ‘presuntinho’, ‘pelota’, ‘bacon’, que ele aprendeu a transformar qualquer ocasião inconveniente num momento hilário.

2- O gordinho sabe elogiar Vem o primeiro filho, o segundo, o terceiro… Aquela calça 36 já não vai entrar mais. E agora? O que fazer? Abandonar todos aqueles chocolates? Coca-cola nunca mais? E aquela picanha ‘bem passada’ com aquele chopp? Relaxa. O gordinho vai comprar o chocolate pra você e falar que você fica sexy lambuzada de chocolate. Ele vai comprar a coca-cola e te dar o copo mais cheio. Ele faz questão de te dar o pedaço mais suculento da picanha. E pra ele, você será sempre a mulher mais linda do mundo. Claro, você passará a ter predicados e adjetivos nunca antes queridos por você. Seu nome terá um codinome ‘bombomzinho’, ‘docinho’, mas veja o lado positivo: é fofo! Literalmente! 3- O gordinho vive mais Agora sim eu tenho um dado oficial pra compartilhar com vocês: pessoas levemente acima do peso após os 40 anos vivem de seis a sete meses mais que os muitos magros, sendo que estes têm expectativa de vida cinco anos menor que os obesos. Segundo os pesquisadores, as pessoas com baixo índice de massa corporal são mais suscetíveis a doenças como pneumonia e seus vasos sanguíneos são mais frágeis. Esta pesquisa foi elaborada por um professor de uma universidade japonesa, a Universidade de Tohoru que, por 12 anos, acompanhou cerca de 50 mil pessoas entre 40 e 79 anos.

4- O gordinho sabe cozinhar Outra excelente vantagem: o gordinho sabe cozinhar. Vai ter momentos em que você não terá tempo pra nada, ou quem sabe você estará cansada da sua própria comida, eis que o gordinho aparecerá com uma panela na mão cheio de receitas pra te agradar. E o melhor: você vai poder repetir que ele vai achar bom.

5- O gordinho é confortável Pronto, começou a chacota. Na verdade, não é chacota. Ouvi muito isso nesta pesquisa boca a boca: o gordinho tem o melhor abraço do mundo. Ter o melhor abraço do mundo ao lado é bom. Faz falta às vezes.

6- O gordinho sabe conquistar a mulher Homem com ‘barriga’ não é metido, nem prepotente, nem dono do mundo. Ele sabe conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E ele aprendeu a conversar, a ser bem humorado, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. Ele faz acontecer. Ele tem interesse em deixar a sua companheira feliz.

7- O gordinho é macho Quando o gordinho senta em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que o pançudinho pede pra beber? Cerveja! Ou Coca-cola, tudo bem também. Mas você nunca o verá pedindo suco ou coca-light. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com ‘clight’ que trouxe de casa. E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação.

8- O gordinho trai menos “- Espera um minutinho: quer dizer que o gordinho trai e o magro não?” Não falei isso. Falei que o gordinho trai menos. Os sarados traem muito mais. O gordinho quando feliz com a sua companheira, não tem olhos pra outra. Ele não tem a necessidade de se autoafirmar como geralmente os homens vaidosos tem. Ele tem a sua vida, a sua rotina, a sua mulher. Pra ele ta ótimo. Ele não pensa em ficar bonito pra chamar a atenção de outras mulheres. Ele prefere vestir uma roupa que a amada gosta, ou passar aquele perfume que ela tanto adora. O gordinho acaba ficando lindo e sexy para sua companheira.

9- O gordinho não te chamará de gordinha Olha que maravilha. Vocês mulheres poderão usar aquele biquíni socadinho no rego que o gordinho vai ainda te dar um tapa no bumbum. Ele olhará pra você como se você fosse uma bisteca bem temperada pronto para ser devorada. Se você se sentir mal com o seu corpo, relaxe. Vai pra cama com o gordinho que você se sentirá muito melhor. 10- O gordinho não é fresco com comida Mulheres que não sabem cozinhar: o mundo também pode ser de vocês. O gordinho não liga se você salgou a comida: ele abre uma coca-cola geladinha e resolve o problema. O gordinho não liga se você não gosta de cozinhar verdura: arroz, feijão e bife resolve o problema. Você ta cansada? Melhor ainda: dia de pizza, sanduíche, jantarzinho fora, etc. Imagina a cena do gordinho indo almoçar na casa da sogra: “ – Nossa sogrinha, mais que comida maravilhosa que você faz. Posso comer mais um pouquinho?”. Sua mãe irá adorar um genro gordinho.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fé e amor na vida


Mahatma Gandhi lutou sua vida inteira, mas conseguiu libertar a Índia do domínio inglês. Quando lhe disseram que era um dos maiores nomes surgidos na história universal, respondeu:

“Nada tenho de novo para ensinar ao mundo. A verdade e a não violência são tão antigas quanto as montanhas. Tudo o que tenho feito é tentar praticá-las na escala mais vasta que me é possível. Assim fazendo, errei algumas vezes e aprendi com meus erros.

Os que acreditam nas verdades simples que procurei mostrar, só podem divulgá-las se viverem de acordo com elas. Estou absolutamente convencido de que qualquer homem ou mulher pode realizar o que realizei, se fizer o mesmo esforço e cultivar a mesma esperança e fé.”

" As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?"

Mahatma Gandhi


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Aí vou eu...zummmmmmmmmm



La Bohème


Je vous parle d'un temps Que les moins de vingt ans Ne peuvent pas connaître Montmartre en ce temps-là Accrochait ses lilas Jusque sous nos fenêtres Et si l'humble garni Qui nous servait de nid Ne payait pas de mine C'est là qu'on s'est connu Moi qui criait famine Et toi qui posais nue La bohème, la bohème Ça voulait dire on est heureux La bohème, la bohème Nous ne mangions qu'un jour sur deux Dans les cafés voisins Nous étions quelques-uns Qui attendions la gloire Et bien que miséreux Avec le ventre creux Nous ne cessions d'y croire Et quand quelque bistro Contre un bon repas chaud Nous prenait une toile Nous récitions des vers Groupés autour du poêle En oubliant l'hiver La bohème, la bohème Ça voulait dire tu es jolie La bohème, la bohème Et nous avions tous du génie Souvent il m'arrivait Devant mon chevalet De passer des nuits blanches Retouchant le dessin De la ligne d'un sein Du galbe d'une hanche Et ce n'est qu'au matin Qu'on s'assayait enfin Devant un café-crème Epuisés mais ravis Fallait-il que l'on s'aime Et qu'on aime la vie La bohème, la bohème Ça voulait dire on a vingt ans La bohème, la bohème Et nous vivions de l'air du temps Quand au hasard des jours Je m'en vais faire un tour A mon ancienne adresse Je ne reconnais plus Ni les murs, ni les rues Qui ont vu ma jeunesse En haut d'un escalier Je cherche l'atelier Dont plus rien ne subsiste Dans son nouveau décor Montmartre semble triste Et les lilas sont morts La bohème, la bohème On était jeunes, on était fous La bohème, la bohème Ça ne veut plus rien dire du tout


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Eu não vou me acostumar


" Eu não vou saber me acostumar Sem sua mão pra me acalmar Sem seu olhar pra me entender Sem seu carinho,amor, sem você. "


A GENTE SE ACOSTUMA

Marina Colassanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

De querer estar tão perto


QUINDINS NA PORTARIA

Martha Medeiros

Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio de Mário Quintana: "Para estar ao lado sem pesar com a presença". Há outras histórias e poemas interessantes no livro, mas me detive nesta frase porque não pesar aos outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade.

Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura.

Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa. Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados.

Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone.
Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho.
Pessoas estão jantando.
Pessoas estão preocupadas.
Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo.
Pessoas estão chorando.
Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando.
Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los, sabendo que nada interromperei do lado de lá.
Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade.
Dizemos pelo computador coisas que, face a face, seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo?
Nem se discute que o encontro é sagrado.
Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios.
Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela.
Quando mando flores, vou junto com o cartão.
Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço.


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cuide bem do seu espelho, o outro






dez mandamentos de como viver bem com os outros

I - Tenha controle sobre sua língua. Sempre diga menos do que pensa. Cultive uma voz baixa e suave. A maneira como se fala muitas vezes impressiona muito mais que aquilo que se diz.

II - Pense antes de fazer uma promessa e depois não dê importância ao quanto lhe custar para cumpri-la.

III - Nunca deixe passar uma oportunidade para dizer uma coisa meiga e animadora para uma pessoa ou a respeito dela.

IV - Tenha interesse no bem estar dos outros. Deixe cada pessoa com quem se encontrar sentir que você lhe dá importância e atenção.

V - Seja alegre. Só exponha suas dores e desapontamentos aos verdadeiros amigos. Ria das boas histórias e aprenda a contá-las.

VI - Conserve a mente aberta. Discuta, investigue, concorde ou discorde... Mas tudo sem perder a amizade...

VII - Deixe as suas virtudes falarem por si mesmo e não fale sobre as fraquezas dos outros.

VIII - Tenha cuidado com os sentimentos dos outros. Gracejos frequentemente magoam...

IX - Não perca tempo com quem fala mal de você. Viva com a sua verdade. Esse é o combustível para levar você pra frente e para o alto...

X - Não seja tão ansioso a respeito de seus direitos. Trabalhe, tenha paciência, mantenha-se calmo. Esqueça um pouco de si mesmo que o tempo se encarregará do resto.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Quero é muito mais!!!


O que será (à Flor da Pele)-Chico Buarque

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

sábado, 16 de janeiro de 2010

FILTREMOS




OS FILTROS

Eu tinha 12 anos quando a professora de ciências pediu um trabalho escolar sobre queirópteros: a ordem dos morcegos. Comprei cartolina. Pincel atômico. Cola Tenaz (a grande novidade que substituía a goma arábica). E mergulhei na minha enciclopédia Conhecer.
Para encontrar os queirópteros passei pela Grécia antiga, a Grande Muralha da China, os dinossauros e os satélites artificiais, viajando pelas páginas coloridas dos livros durante horas. Até encontrar os tais morcegos. Aí copiei o texto (escrevendo à mão), recortei revistas, colei na cartolina, e na segunda-feira levei aquela coisa amassada à escola para a professora examinar e dar a nota. Era assim o processo. E nunca mais esqueci o que são queirópteros. Ou como funciona um navio. Ou como morreram os dinossauros...

E hoje, hein? A garotada acessa o Google ou a Wikipédia, digita o assunto que interessa e pronto! Copia, cola e imprime seu trabalho, entrega no dia seguinte e nunca vai se lembrar daquilo que copiou. E nem teve a chance de navegar pela enciclopédia.
Mas é esse o novo processo da tal sociedade da informação: tudo está à mão, vindo de qualquer fonte, em qualquer idioma, com imagens, vídeos e sons. Imediatamente. E a cada dia mais tecnologia é desenvolvida para facilitar mais acesso a mais dados e informações.

No entanto, pouca gente percebeu que o DNA da “sociedade da informação” não é a informação. É a logística.

A maioria absoluta da informação à qual temos acesso hoje, sempre esteve por aí, disponível. A “sociedade da informação” apenas popularizou as ferramentas de acesso às idéias e obras de Platão, Einstein, Picasso, Sinatra ou Cecilia Meireles.

Mas de que vale tanto acesso à informação para quem não tem repertório para interpretá-la?

Filtrar tudo a que temos acesso para escolher a informação relevante é o maior desafio para quem quer não apenas sobreviver, mas vencer na sociedade da informação.

Estamos na era dos filtros.

É possível comprar ou emprestar filtros. É assim que fazemos quando escolhemos aquilo que todo mundo está usando, a música que todo mundo está ouvindo, o livro que todo mundo está lendo: usamos os filtros dos outros.

Quando escolhemos um jornal ou revista para ler, escolhemos um filtro. É através dos olhos dos editores que veremos o mundo.
E a maioria das pessoas, com preguiça ou por pura ignorância, passa a vida vendo o mundo pelos filtros dos outros.

Dá para viver assim? Dá. Dá até para ter algum sucesso. Mas seremos sempre nada mais que previsíveis.

Bem, minha recomendação para este novo ano, esta nova década, é que invistamos no desenvolvimento de nossos próprios filtros.
Como? Olha, dá trabalho, pois exige estudo e – sobretudo – atenção.
É necessário estar permanentemente atento para refletir sobre nossas experiências, sobre o que passamos e quais as conseqüências. Estar atentos para diversificar nossas leituras, usar a multiplicidade de idéias da internet, encontrar mentores que nos orientem e sempre lançar aquela perguntinha marota:

- Por quê?

Use seus filtros em 2010. E faça dele um ano feliz.



Luciano Pires

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quanta loucura é o amorrrrr


"O amor nunca faz reclamações; dá sempre. O amor tolera; jamais se irrita e nunca exerce vingança."(Mahatma Gandhi)





Cegueira do amor

Contam que uma vez se reuniram os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da Terra.
Quando o aborrecimento havia reclamado pela terceira vez, a loucura, como sempre tão louca, lhe propôs:
-Vamos brincar de esconde-esconde?
A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade sem poder conter-se perguntou:
-Esconde-esconde? Como é isso?
-É um jogo - explicou a loucura - em que eu fecho os meus olhos, conto até 1 milhão enquanto vocês se escondem, quando eu terminar de contar começo a procurá-los e o primeiro que eu encontrar ocupa o meu lugar no jogo.
O entusiasmo dançou seguido pela euforia, a alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a dúvida e até a apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos participaram, a verdade não quis se esconder, a soberba opinou que era um jogo muito tolo, no fundo o que a incomodava era que a idéia não tinha sido dela, e a covardia preferiu não se arriscar.
-Um, dois, três... começou a contar a loucura.
A primeira a se esconder foi à pressa como sempre tão apressada, caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A fé subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da mais alta árvore.
A generosidade quase não conseguiu se esconder, pois cada local que achava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos, ao contrário do egoísmo que encontrou um ótimo lugar só para ele.
A mentira se escondeu no fundo do oceano (mentira! foi atrás do arco-íris) o esquecimento, não me recordo onde se escondeu... Quando a loucura estava lá pelos 999.999 o amor ainda não havia achado um lugar para se esconder, pois todos estavam ocupados até que encontro um roseiral e decidiu esconde-se entre as rosas.
-Um milhão!
Terminou de contar a loucura e começou a procurar. A primeira a aparecer foi à pressa apenas a três passos de uma pedra. Depois encontrou a fé discutindo com Deus sobre sociologia, em um descuido encontrou a inveja e claro pôde deduzir onde estava o triunfo, o egoísmo não precisou ser procurado, saiu correndo de seu esconderijo que era um ninho de vespas. A dúvida foi mais fácil ainda, encontrou sentada em uma cerca sem decidir de que lado se escondia. E assim foi encontrando a todos, o talento nas ruas frescas, a angústia em uma cova escura, apenas o amor não aparecia quando a loucura estava dando-se como vencida encontrou um roseiral, pegou uma forquilha e começou a mover os ramos. No mesmo instante ouvi-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o amor nos olhos. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se, chorou, rezou, implorou e até prometeu ser sua guia. Desde então o amor é cego e a loucura sempre o acompanha.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um desejo


Eu desejo que desejes


Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido,
desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas,
mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado
depois de correr ou um abraço ao chegar em casa,
desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.

Mas desejo também que desejes com audácia,
que desejes uns sonhos descabidos
e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração,
mas os mantenha acesos, livres de frustração,
desejes com fantasia e atrevimento,
estando alerta para as casualidades e os milagres,
para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.

Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras,
que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe
e desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer
e que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro,
eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.

Mas desejo também que desejes uma alegria incontida,
que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos,
basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar,
que desejes o bar tanto quanto a igreja,
mas que o desejo pelo encontro seja sincero,
que desejes escutar as histórias dos outros,
que desejes acreditar nelas e desacreditar também,
faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas,
que desejes não ter tantos desejos concretos,
que o desejo maior seja a convivência pacífica
com outros que desejam outras coisas.

Desejo que desejes alguma mudança,
uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma,
mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia.
Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados,
que nada fique por fazer, e desejo, principalmente,
que desejes desejar, que te permitas desejar,
pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente,
não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias,
romances, diagnósticos favoráveis, mais dinheiro e sentimentos vários,
mas desejo, antes de tudo, que desejes, simplesmente.

Martha Medeiros