terça-feira, 19 de maio de 2009

Saudade, saudade de quê?

"Oras bolas"! Mas saudade, saudade de quê? Saudade pra qualquer coisa que faça parar a respiração, suar de comoção, trançar as pernas no devaneio, suspirar com aquele cheiro de lembrança. Ai que "bão"! Lembrar de cheiro de fazenda, gosto de arroz-doce de fogão à lenha, de doce de leite mineirinho de barra gigante desmanchando na boca, de pipoca estourando na entrada do cinema, de "bailinho" com direito a ficar com a vassoura quem estiver sem par, de abraço na porta do ônibus na hora de embarcar pra outra cidade (aquela que você está fazendo faculdade), de colo de vó contando suas aventuras de solteirice, de praia no inverno onde todo mundo sai de chinelo mas mega super agasalhado por causa do vento gelado, de comer manga trepada na mangueira, ou então chupar jaboticaba no pé, ir no show e saber todas as letras pra cantar junto do Renato Russo (Legião Urbana, saudade), fazer travessia de uma praia pra outra em alto mar morrendo de medo mas fazendo de conta que não sente nada, pegar o metrô e fazer todas as estações só pra ver a cara de cada uma naquele dia, assistir uma peça de teatro e depois ir conversar com os atores atrás da coxia mostrando-se super interada no contexto(rsrsrs, é legal), e essa saudade vai longe...
Mas é tão bom saber que tudo aconteceu!

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

Beijos no escuro do cinema, morrendo de vergonha de perceberem que você ainda nem sabe beijar...Ainda bem que já foi!

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